O uniforme esportivo da ultradireita britânica – 29/08/2025 – Marina Izidro
O azul-claro lembra a camisa do Manchester City. Mas, olhando de perto, o uniforme tem na frente o nome “Reform UK” e a bandeira do Reino Unido. No escudo, a frase “Família, Comunidade e País.” Atrás, o número 10 e o nome “Farage”.
Nigel Farage é daquelas pragas que aparecem na política de tempos em tempos. Há vários deles pelo mundo e qualquer semelhança não é mera coincidência.
O britânico foi um dos principais nomes da campanha a favor do brexit –saída do Reino Unido da União Europeia—, usando uma estratégia conhecida da extrema direita: o medo. Dizia à população que imigrantes roubavam os empregos dos britânicos, eram terroristas. Defende que o país saia da Convenção Europeia de Direitos Humanos e de outros acordos internacionais; é negacionista climático.
Não satisfeito em deixar o Reino Unido dividido, mais isolado e burocrático depois do divórcio com a Europa, achou que o Partido Conservador não era à direita o suficiente e criou o Reform UK, de ultradireita. Agora, foca em outro público: torcedores de futebol.
A tática de tentar associar patriotismo ao esporte não é incomum.
Na Inglaterra, a organização de ultradireita English Defence League, criada em 2009 e com hooligans entre seus fundadores, tentou se apropriar de símbolos nacionais, como a Cruz de São Jorge da bandeira da Inglaterra.
Na Eurocopa de 2021, o então primeiro-ministro, Boris Johnson, vivia com o uniforme da seleção.
No Brasil também vimos isso. Eu, por exemplo, de uns anos par cá, só uso o modelo feminino da camisa amarela da seleção. E com o nome da Marta.
Em 2021, quando jogadores da Inglaterra se ajoelharam em campo contra o racismo, Farage disse que a política não deveria se meter no esporte. Só que também não é incomum políticos mudarem de opinião dependendo de seus interesses.
No caso do futebol, é a estratégia de pertencimento, que se encaixa perfeitamente na conexão entre esporte e homens brancos ingleses da classe trabalhadora. A narrativa foi usada por Farage na campanha do brexit, ao falar de uma geração jovem “perdida” por causa dos imigrantes (pesquisa recente mostra que a juventude inglesa tem medo é da inteligência artificial).
A camisa do Reform UK está sendo comparada ao boné “Make America Great Again” de Trump e levantou o debate: é melhor expor o assunto, com risco de dar visibilidade à causa, ou ignorá-lo?
A imigração segue sendo um tema quente e a popularidade do Reform UK vem subindo. Hoje, é o partido com maior número de filiados no Reino Unido depois dos Trabalhistas e conseguiu 41% dos assentos nas eleições locais de maio para cargos equivalentes aos de vereador no Brasil.
Portanto, o consenso é que é perigoso desmerecer esse passo de Farage ou classificá-lo apenas como estratégia barata de marketing. É preciso falar. Informar é educar.
Acho que será difícil ver alguém com a camisa em um pub de Londres. Na capital inglesa, a maioria votou para ficar na União Europeia no plebiscito de 2016. Não é o caso em outras partes do país. O Reform UK diz que vendeu mil camisas só na primeira hora do lançamento, a £ 39 cada uma (R$ 285) —ou £ 99 (R$ 725) com o autógrafo de Farage. Como comparação, as da Premier League custam, em média, £ 85 (R$ 620).
Como seria bom se, pelo menos desta vez, esporte e política não se misturassem.
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