O medo de Bia Haddad diante da rede – 01/09/2025 – No Corre

O medo de Bia Haddad diante da rede – 01/09/2025 – No Corre


Com o corpo rígido, como se tivesse sofrido um estiramento muscular, a tenista Bia Haddad mal corria em quadra, tomando pontos defensáveis e colocando em risco, logo na estreia, sua participação no US Open. Chegou a sacar como se já não tivesse força nem ânimo.

Mesmo assim, a brasileira conseguiu vencer aquele terceiro set e, consequentemente, o jogo, o primeiro de sua até aqui vitoriosa jornada no Slam estadunidense. Escrevo antes de sua partida de oitavas de final na noite desta segunda (1).

Após a vitória na estreia, Bia disse à ESPN Brasil que não havia nada errado com o corpo, que sua “batalha era muito mais interna do que externa”. Enfrentava, como disse, “pensamentos que vieram”. “Tô feliz com minha batalha interna, tô feliz que me dei mais uma chance.”

Não é incomum ver tenistas a correr pouco, como se tivessem perdido o interesse pelo jogo. Às vezes, o “exílio” em plena quadra pode ser estratégico, a fim de reunir forças para o set seguinte, mas é estranho alguém praticar movimentos robóticos, como se não conseguisse flexionar o corpo. Os tais “pensamentos que vieram” de Bia seriam a razão disso?

Eu mesmo já sofri algo semelhante, mas na piscina olímpica, o que parece mais compreensível, dado que há risco de morte na água. O triatleta amador Fabiano Pereira também viveu momentos difíceis no mar de Santos, numa prova de sprint (com 750 metros de natação) do Troféu Brasil.

Iniciando-se na modalidade, mas confiante em razão de resultado anterior, chamou toda a família para vê-lo. Mas com uma crise de ansiedade e muita “pressão no peito”, abortou já nas primeiras braçadas e pediu ajuda ao “steward”. O fiscal do caiaque sugeriu que abrisse um pouco sua roupa de natação, o que só piorou as coisas. Acabou por deixar o mar resgatado.

Por que travamos?

Para a psicóloga do esporte Wania Rennó, de São Paulo, a autoexigência elevada de atletas de alta performance pode gerar uma crise de ansiedade paralisante. “O atleta começa a pensar demais nos próprios movimentos, interrompe o automatismo natural do corpo.”

Para ela, a “mente é o motor”, e, no caso dos amadores, que ela também atende, a ideia obsessiva de perda de controle em certas situações, como na natação para os triatletas, pode se tornar uma profecia autorrealizável e levar à ansiedade, à elevação dos batimentos cardíacos, à paralisia, quando não ao pânico.

“Entre os triatletas, esse comportamento é sempre na água, nunca na bike ou na corrida, que eles conseguem controlar.”

Em recente coluna sobre “autossabotagem” para o portal Webrun, Wania escreveu que, “se você acredita, mesmo inconscientemente, que não merece, não pode ou não tem capacidade, seu comportamento vai dar um jeito de confirmar essa crença”.

Se Bia enfrentou algo do tipo, conseguiu achar em algum lugar um antídoto, o que Wania chama de “equilíbrio”.

Esse equilíbrio pode ser treinado. Wania costuma usar uma espécie de maiêutica socrática em seu consultório. Assim que um corredor lhe diz que falha por temer, por exemplo, “quebrar” (não conseguir manter o ritmo ou deixar uma prova), ela pergunta: “Por que você quebraria?”. E a resposta a essa pergunta enseja outras tantas questões.

A ideia, penso, isso não perguntei a ela, é que tenhamos na hora mais sofrida a capacidade de usar nosso próprio “personal” Sócrates para nos inquirir –e acalmar.


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Fonte: Uol

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