O fair play financeiro para valer – 30/08/2025 – Juca Kfouri
A CBF criou uma comissão para tratar da urgente, e já tardia, questão do fair play financeiro na gestão dos clubes e na isonomia dos campeonatos.
No Brasil é conhecida a descrença sobre as comissões, em regra criadas para empurrar as soluções com a barriga.
Crentes e otimistas que somos, acreditemos que esta será para valer.
Uma das vozes mais entusiasmadas com a ideia é a da presidenta do Palmeiras, Leila Pereira, que, com razão, acusa clubes endividados de concorrência desleal ao investir o dinheiro que não têm para contratar jogadores e competir de maneira desigual com aqueles que vivem dentro de seus orçamentos.
Como se sabe, ela é dona da Crefisa, fartamente responsável pela saúde financeira do alviverde, assim como um dia foi a Parmalat, tempos depois pega pela Operação Mãos Limpas, na Itália, como grande lavanderia de dinheiro.
Em vez de fair play, o doping financeiro, com dinheiro sujo e mal lavado capaz de montar verdadeiros esquadrões.
Também o rival Corinthians valeu-se do mesmo expediente ao se associar à famigerada MSI, da máfia russa.
Então, portadores de hímen complacente justificavam as negociatas com o falacioso argumento de que o dinheiro entrava com conhecimento do Banco Central e que, portanto, nada havia de reprovável.
A Parmalat foi embora, e o Palmeiras caiu para a Série B, assim como aconteceu com o Corinthians tão logo a MSI virou caso de polícia.
O dinheiro da Crefisa também está longe de ser produto de operações exemplares —basta verificar as inúmeras ações na Justiça movidas por aposentados vítimas da usura que a caracteriza, assim como, recentemente, a revelação de contratos pouco republicanos com o INSS.
Em resumo: o fair play financeiro será mera hipocrisia se a origem do dinheiro, como o das bets, passar ao largo do que aprendemos na escola serem as leis dos bons costumes.
Ingênuos somos todos nós ao pregar os fundamentos do mundo ideal quando a realidade nua e crua demonstra diariamente que a ganância é o que rege as relações humanas, despreocupadas com os prejudicados, a favor dos espertos, dos ditos vencedores, que vendem pai e mãe e nem sempre entregam, gestores ou garotos-propaganda das piores práticas.
O atual escândalo sobre a associação do PCC com a Faria Lima e o futebol está aí para comprovar.
O pior em tudo isso é a falta de perspectiva.
A poderosa Premier League e o campeonato primoroso que promove não seriam o que são caso vivessem de patrocínios, digamos, higienizados. Ao contrário, vivem do ervanário de ditaduras árabes, como já aconteceu de serem irrigados pela grana de bilionário russo, nas chamadas operações de sportswashing, efusivamente apoiadas pela Fifa como se viu nas Copas do Mundo da Rússia, do Qatar e, em 2034, da Arábia Saudita —do generoso e gentil Mohamed bin Salman, que presenteou Jair Bolsonaro com joias milionárias e mandou esquartejar um jornalista que o criticava.
Como o mercado da arte, o do esporte é sob medida para lavar dinheiro ao se valer da intangibilidade das transações.
Quanto vale um Picasso? Um Messi?
Tome chá de cadeira enquanto espera pelo fim de tal brincadeira.
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