O azar de Neymar – 03/09/2025 – Juca Kfouri
Ao se contrapor a Carlo Ancelotti, que exige jogadores 100% preparados fisicamente para estar na seleção brasileira, e dizer que não foi convocado por motivos técnicos, Neymar acertou na mosca.
À luz do que se vê nos gramados, Neymar está jogando bulhufas.
E também não está 100% fisicamente, porque, embora tenha entrado em campo e em campo ficado por 90 minutos em oito jogos quase consecutivos, jogar que é bom, não jogou.
Deu um toquinho de classe aqui, levou uma entrada mais feia ali, marcar não marcou ninguém, bateu alguns escanteios com a arte que trouxe do berço, mas, convenhamos, fez pouco ou nada para, em matéria de competitividade e intensidade, disputar jogos que exijam alto rendimento como os pela seleção.
Ancelotti sabe disso tudo e simplesmente o deixou fora da convocação.
Porque o italiano tem tamanho para tanto —é maior, bem maior, que o santista no futebol mundial.
Não deixa de ser curioso.
Dunga errou ao não convocar Neymar para disputar a Copa do Mundo de 2010, por mais jovem que ele fosse. Naquele momento de pânico, quando a Holanda emplacou a virada para 2 a 1, seria hora de mandá-lo entrar no jogo e fazer o que lhe viesse à telha —ele tinha talento, ousadia e até irresponsabilidade para tal.
Depois, em 2014, sob as ordens de Felipão, Neymar já era grande, campeão da Libertadores três anos antes, mas ainda respeitoso. Deu-se a miserável lesão na coluna.
Em 2018 e 2022, quem mandava, e desmandava, na seleção eram ele e seu pai, seu pai e ele.
Tite submeteu-se, menor que era.
Ancelotti, compreensível paradigma para Tite, ensina como se faz, independente, soberano, seguro de si.
Desafiá-lo será o pior caminho para o ex-craque em atividade se quiser mesmo voltar a ser craque e não apenas mais um veterano que perambula pelos gramados, à custa da fama construída em anos pretéritos.
Alguém precisa dizer a ele, e certamente papai não o fará, que polemizar com Ancelotti apenas o transformará em estorvo e, de estorvo vetado, alívio para o treinador.
Talvez Neymar confie na adoração de que desfruta entre os jogadores da seleção. Daí a tornar-se insubstituível vai enorme diferença.
Se bater de frente com o blindado Jorge Jesus, no Al-Hilal, resultou em trombada que amassou seriamente a lataria de Ney, pior será com o caminhão italiano.
Em resumo, rebelde sem causa, Ney: prepare-se para estar fisicamente 100% e jogar com intensidade; e readquira a forma técnica, nem que seja por volta dos 50%, o bastante para você se distinguir.
Assim seu caminho pode se reabrir, para Ancelotti recebê-lo de braços também abertos, porque de bobo ele não tem nada e não abriria mão do seu talento, nem que seja só para parte dos jogos.
Grande Carta
Luis Fernando Verissimo, aos 88.
Agora, Mino Carta, aos 91.
Nossos velhinhos imprescindíveis estão se despedindo, indo embora lenta e discretamente.
Cada um ao seu modo, capazes de legar obras incomensuráveis, definitivas.
O ruim de envelhecer é contabilizar perdas irreparáveis.
O bom de viver é poder aprender com personagens gigantescos como os dois.
Se Deus existisse estaria às gargalhadas com Verissimo.
E levando broncas homéricas de Mino.
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