Meta: Entenda investida em modelos de IA que dão lucro – 12/12/2025 – Tec

Meta: Entenda investida em modelos de IA que dão lucro – 12/12/2025 – Tec


Enquanto monta uma das equipes mais caras da história da tecnologia, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, está se envolvendo pessoalmente no trabalho do dia a dia para redirecionar o foco da empresa para um modelo de IA (inteligência artificial) capaz de gerar receita.

Um novo modelo, de codinome Avocado, deve ser lançado na próxima primavera do hemisfério norte e poderá chegar como um modelo “fechado” —controlado de forma rígida e vendido sob licença pela Meta, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram anonimato para discutir planos internos.

A mudança, alinhada ao que Google e OpenAI já fazem, representaria o maior afastamento até agora da estratégia de código aberto que a Meta vem defendendo há anos. Modelos abertos permitem que desenvolvedores e pesquisadores externos revisem e expandam o código. O novo diretor de IA da Meta, Alexandr Wang, é defensor de modelos fechados, segundo essas pessoas.

A estratégia da Meta mudou abruptamente no início do ano, após o lançamento do Llama 4, um modelo aberto que frustrou o Vale do Silício e o próprio Zuckerberg. Ele afastou parte da equipe responsável pelo projeto e passou a recrutar pessoalmente grandes pesquisadores e líderes em IA, oferecendo, em alguns casos, pacotes salariais de centenas de milhões de dólares ao longo de vários anos.

Entre eles está Wang, que chegou à empresa depois de um acordo de US$ 14,3 bilhões envolvendo sua startup, a Scale AI. Agora, Zuckerberg dedica boa parte do seu tempo ao trabalho com essas contratações, reunidas em um grupo chamado TBD Lab.

O grupo TBD está usando vários modelos de terceiros como parte do treinamento do Avocado, destilando capacidades de rivais como o Gemma, do Google; o gpt-oss, da OpenAI; e o Qwen, da chinesa Alibaba, disseram as fontes.

Treinar o novo modelo com tecnologia chinesa marca uma mudança de tom para Zuckerberg, que havia demonstrado preocupação, em janeiro, no podcast de Joe Rogan, de que modelos chineses poderiam refletir censura estatal. Desde então, o executivo passou a defender repetidamente que o governo dos EUA apoie empresas americanas na corrida global da IA, e dizia que sua estratégia de código aberto fazia parte dessa missão. Mas o Llama e outros esforços americanos ficaram para trás. “A China está muito à frente em código aberto”, afirmou o CEO da Nvidia, Jensen Huang, neste mês.

A Meta não comentou.

Zuckerberg insiste há anos que abrir o acesso a ferramentas emergentes fortalece os produtos da Meta e estimula sua adoção. Ele costuma comparar a estratégia aberta da empresa ao Android, do Google. Embora a Meta também desenvolva modelos fechados para uso interno —e Zuckerberg já tenha sugerido lançar outros— várias versões do seu modelo de IA mais importante, o Llama, são abertas.

Em teleconferência com investidores no fim de julho, Zuckerberg deu a entender que a empresa passará a investir simultaneamente em modelos abertos e fechados.

A IA se tornou a prioridade máxima da Meta, absorvendo a maior parte dos gastos e da atenção dos executivos enquanto a empresa disputa com rivais a corrida para atingir modelos capazes de superar o desempenho humano. Zuckerberg prometeu investir US$ 600 bilhões em infraestrutura nos EUA nos próximos três anos, a maior parte destinada a IA.

Internamente, também está redirecionando investimentos: planeja cortes significativos nos esforços de realidade virtual e metaverso para priorizar óculos de IA e outros hardwares relacionados.

Apesar disso, os gastos da Meta com IA despertaram preocupação em Wall Street. Investidores reagiram mal à promessa de Zuckerberg de continuar aumentando investimentos até 2026. A Meta argumenta que essas iniciativas já trazem retorno ao turbinar o negócio de publicidade, e Zuckerberg diz que é necessário “antecipar” capacidade rapidamente, mas analistas duvidam que a aposta bilionária em data centers e infraestrutura gere lucro no curto prazo.

Após a Bloomberg informar que a empresa considerava cortes profundos no metaverso, as ações subiram com expectativas de maior disciplina nos gastos.

Para entregar algo de ponta no próximo ano, a Meta dependerá fortemente de Wang, um prodígio de 28 anos. Internamente, Zuckerberg se posicionou como uma espécie de mentor de Wang, segundo pessoas familiarizadas com a relação, confiando a ele talvez o projeto mais caro e importante da empresa. Embora Wang não seja considerado um pesquisador técnico, ele conhece o setor por meio dos relacionamentos construídos na Scale AI e impressionou colegas com sua rapidez e visão estratégica.

Ainda assim, Wang tem se frustrado com o que vê como microgerenciamento, dizem as fontes. Zuckerberg tem histórico de se envolver profundamente nos produtos mais importantes da Meta. Integrantes do TBD Lab foram posicionados próximos à mesa do CEO na sede da empresa na Califórnia para facilitar o acompanhamento dos projetos.

Ao mesmo tempo, a Meta vem reduzindo a prioridade da estratégia aberta. Depois do lançamento do Llama 4, alguns funcionários foram instruídos a parar de falar publicamente sobre código aberto e sobre os produtos Llama enquanto a empresa reavaliava seu plano, disseram as fontes.

Yann LeCun, um dos “pais” da IA, deixou a empresa recentemente após liderar por anos o grupo de pesquisa de longo prazo, em parte por não conseguir recursos suficientes, conforme noticiado pela Bloomberg. Antes de sua saída, alguns funcionários foram orientados a tirá-lo do centro das atenções, inclusive de palestras, porque, para a empresa, ele já não representava a estratégia de IA da Meta e não era confiável para seguir a postura oficial da big tech.

O modelo que sucederia o Llama 4 tinha o codinome Behemoth, mas Zuckerberg se decepcionou com a direção do projeto e o descartou, segundo as pessoas.

Desde então, a pressão sobre a nova equipe aumentou, principalmente devido ao gasto exorbitante da Meta para montar o que Zuckerberg chamou de “o time mais talentoso e denso da indústria”. Cerca de seis meses após a guinada para IA, a equipe tem trabalhado de forma intensa e silenciosa, mas ainda sem grandes resultados públicos.

As poucas notícias que vieram à tona têm sido negativas: algumas contratações do Meta Superintelligence Labs saíram poucas semanas depois de chegar; em outubro, a Meta eliminou 600 vagas da unidade de IA, com cortes fortes na divisão mais acadêmica. LeCun saiu em seguida.

O produto mais visível também recebeu avaliações mistas. Para se antecipar ao lançamento do Sora 2, da OpenAI, a Meta apressou o lançamento de sua própria ferramenta de geração de vídeo, chamada Vibes, usando tecnologia licenciada da startup Midjourney. Embora a Meta diga que o Vibes tem bom engajamento, o Sora, lançado uma semana depois, rapidamente ofuscou o produto na imprensa e nas redes.

O sucesso da estratégia pode depender também da capacidade de Zuckerberg de vender sua visão a usuários, reguladores e investidores. O objetivo declarado do grupo é alcançar a “superinteligência”, termo usado para descrever sistemas de IA capazes de superar humanos em tarefas. Mas a palavra também gera confusão e preocupação, dentro e fora da empresa.

Recentemente, a liderança da Meta encarregou equipes de dados de pesquisar como o termo seria recebido por formuladores de políticas nos EUA e no exterior. Com consultores externos, concluíram que “superinteligência” despertava temor de poder descontrolado da IA, especialmente na Europa, onde reguladores já reagiram às ofertas de IA da Meta.

Nos EUA, acadêmicos e tecnólogos influentes, entre eles o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e Richard Branson, da Virgin Atlantic, chegaram a defender a proibição do desenvolvimento de “superinteligência” até que sua segurança seja comprovada.



Fonte: UOL

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