IA: o que as empresas estão tentando construir? – 19/09/2025 – Tec

IA: o que as empresas estão tentando construir? – 19/09/2025 – Tec


Sam Altman, diretor-executivo da OpenAI, não tem inibição alguma de revelar quanto sua empresa planeja gastar em esforços para construir inteligência artificial.

“Pode-se esperar que a OpenAI gaste trilhões de dólares em coisas como a construção de centros de dados em um futuro próximo”, afirmou Altman recentemente, referindo-se às imensas instalações de computação que alimentam as tecnologias de IA da empresa.

“Vários economistas provavelmente vão esfregar as mãos e dizer: ‘Isso é loucura. É imprudência.’ Ou algo do tipo. E vamos responder: ‘Querem saber de uma coisa? Nos deixem fazer nosso trabalho.'”

Mas o que é exatamente esse trabalho? À medida que gasta cada vez mais, transformando terras agrícolas em centros de dados e pesquisadores de IA em alguns dos trabalhadores mais bem pagos do país, a indústria de tecnologia também tem se esforçado para dar explicações sobre o que está construindo e por que está investindo tanto dinheiro nesse empreendimento.

Será que está construindo um sistema de IA tão inteligente quanto o ser humano? Uma máquina divina que vai mudar o mundo se não destruir a humanidade primeiro? Está trabalhando em versões mais sofisticadas de softwares que são comercializados há décadas? Todo esse dinheiro está sendo aplicado em um plano ousado para criar falsos amigos on-line e anúncios mais eficientes? Ou o setor está apenas com medo de perder a corrida, já que muitos outros estão fazendo o mesmo?

Aqui está um resumo das visões, das mais plausíveis às puramente fantásticas, e por que essas ideias têm sido tão perseguidas.

PROMESSA: UM MECANISMO DE BUSCA MELHOR

Os chatbots funcionam de maneira muito semelhante a um mecanismo de busca, com a diferença de que geram respostas em linguagem simples, e não uma lista de links azuis. Essa pode ser uma maneira mais rápida, fácil e intuitiva de responder a perguntas, embora os chatbots errem com frequência e até inventem coisas.

Por que isso está sendo construído?

O mecanismo de busca do Google é o negócio mais lucrativo da indústria de tecnologia. Se pudessem oferecer uma maneira melhor de pesquisar informações, as empresas poderiam conquistar um mercado de bilhões de pessoas.

Isso se aproxima da realidade?

Centenas de milhões de indivíduos já estão usando chatbots para coletar informações. Mensalmente, mais de 700 milhões usam apenas o ChatGPT.

Mas lucrar com essa tecnologia é um desafio. Operar um chatbot é significativamente mais caro do que manter um site comum. Além disso, a tecnologia não se adapta necessariamente ao método consagrado de gerar receita em um mecanismo de busca: a publicidade digital.

A OpenAI vende uma versão do ChatGPT a US$ 20 (R$ 100) por mês e, de acordo com a companhia, isso cobre o custo da entrega. Mas esses assinantes representam menos de 6% das pessoas que agora usam o ChatGPT.

A versão gratuita ainda está no vermelho, porque a OpenAI não começou a experimentar a publicação de anúncios. O Google, por outro lado, gera US$ 54 bilhões (R$ 288 bilhões) em receita publicitária a cada trimestre com seu mecanismo de busca, que é usado por cerca de dois bilhões de pessoas diariamente.

(O “The New York Times” processou a OpenAI e a Microsoft, alegando violação de direitos autorais de conteúdo noticioso relacionado a sistemas de IA. As empresas negaram essas afirmações.)

PROMESSA: FERRAMENTAS QUE TORNAM OS FUNCIONÁRIOS DE ESCRITÓRIO MAIS PRODUTIVOS (E TALVEZ VENHAM A SUBSTITUÍ-LOS)

A tecnologia que impulsiona o ChatGPT não se limita a responder perguntas; é uma ferramenta que ajuda as pessoas a executar seu trabalho. A IA pode gerar programas de computador, resumir documentos e reuniões, redigir emails e até mesmo usar outros aplicativos de software, como planilhas e calendários on-line.

Por que isso está sendo construído?

Os executivos de tecnologia acreditam que a IA pode transformar o mundo dos negócios à medida que se expande para escritórios de advocacia, hospitais, redações e muito mais. Corporações como a Microsoft e a OpenAI já estão gerando uma vasta receita com a venda de sistemas de IA que podem gerar programas de computador.

A Amazon, o Google, a Meta, a Microsoft e a OpenAI planejam gastar este ano mais de US$ 325 bilhões (R$ 1,7 trilhão) combinados em centros de dados gigantescos, o que representa US$ 100 bilhões (R$ 530 bilhões) a mais do que o orçamento anual da Bélgica. Com o tempo, cerca de 10% da infraestrutura será usada para construir tecnologias de IA, enquanto 80 a 90 por cento serão usados para fornecer essas tecnologias aos clientes, de acordo com o diretor-executivo da Amazon, Andy Jassy.

Isso se aproxima da realidade?

Muitas empresas já estão testando a IA, mas ela ainda não foi maciçamente implantada na economia dos EUA. A menos que companhias como a Amazon, o Google e a OpenAI continuem a melhorar essas tecnologias, a adesão pode ser mais lenta do que o esperado.

Cerca de oito em cada dez corporações começaram a usar IA generativa, mas muitas declararam que “ela não tem impacto significativo nos resultados financeiros”, segundo uma pesquisa da McKinsey & Co.

“O castelo de cartas vai começar a desmoronar. A quantidade de dinheiro que está sendo gasta não é proporcional ao montante que está entrando”, observou Sasha Luccioni, pesquisadora da startup de inteligência artificial Hugging Face.

PROMESSA: UM ASSISTENTE DE IA PARA TUDO

As empresas de tecnologia também estão incorporando tecnologia semelhante a chatbots em uma grande variedade de produtos e serviços de consumo. Segundo elas, a IA vai funcionar como um assistente digital que aparece sempre que necessário.

A Meta está adicionando a tecnologia aos seus óculos inteligentes, permitindo que as pessoas identifiquem pontos de referência enquanto caminham pela rua e traduzam placas de rua quando visitam um país estrangeiro. A Amazon vê a IA como uma forma de melhorar tudo, desde seus sites de compras até sua assistente de voz Alexa.

Por que isso está sendo construído?

Se você começar a usar um assistente digital, a companhia por trás do bot terá mais maneiras de chamar sua atenção e, por fim, de lhe vender coisas.

Portanto, essas empresas estão adicionando tecnologia de IA ao maior número possível de dispositivos e serviços online, visando controlar a maneira como você usa a internet.

“Tudo vai ser transformado com a IA. Esse não é um projeto científico”, disse Rohit Prasad, vice-presidente sênior da Amazon.

Isso se aproxima da realidade?

Os óculos com IA da Meta ainda são um produto de nicho usado por alguns milhões de pessoas. A Alexa da Amazon é muito mais popular, mas seu público ainda é pequeno em comparação com todos os computadores e telefones do mundo.

Por si só, a Alexa tem sido um prejuízo financeiro desde que foi lançada, há mais de uma década. É usada principalmente para aprimorar outros produtos e serviços.

Quando a Amazon reiniciou a Alexa com uma nova tecnologia de IA, ofereceu a atualização gratuitamente para qualquer pessoa que pagasse pelo seu programa de assinatura Prime. A IA pode torná-la mais popular, mas é improvável que se transforme em uma fonte de renda em breve.

PROMESSA: AMIGOS DE IA


A Meta e várias startups, incluindo a Character.AI e a xAI de Elon Musk, estão começando a oferecer bots de IA que proporcionam um novo tipo de companhia. Pode-se interagir com esses bots nas redes sociais da mesma maneira que se interage com os amigos.

“As pessoas em geral querem mais conectividade do que já têm”, declarou o diretor-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, em entrevista recente a um podcast.

Por que isso está sendo construído?

Zuckerberg e Musk administram redes sociais e podem cobrar por seus amigos virtuais. O segundo está oferecendo seus bots mediante um serviço de assinatura que custa US$ 300 (R$ 1.600) por mês.

A Meta também pode cobrar uma taxa de assinatura por amigos virtuais, assim como a OpenAI faz com o ChatGPT, embora a primeira tenha preferido, há muito tempo, aumentar a receita publicitária retendo as pessoas em redes como o Facebook e o Instagram e em aplicativos como o WhatsApp. (A Meta também está aplicando a IA nessa área. Descobriu recentemente que as pessoas são quase 7% mais propensas a clicar em anúncios criados com novas técnicas de IA.)

Isso se aproxima da realidade?

Embora algumas pessoas já tratem os chatbots como amigos, as corporações de IA estão começando a receber críticas pesadas. Essas tecnologias podem afastar as pessoas das relações humanas e levá-las a comportamentos delirantes e alarmantes.

Ainda faltam anos para que esse mercado se torne viável, e é apenas um dos muitos cenários que as empresas estão explorando.

Alguns observadores comparam o que os executivos de tecnologia estão fazendo com o movimento de peças em um tabuleiro de jogo: tentar vencer os rivais na próxima grande jogada tecnológica.

“Tanto poder nas mãos de tão pouca gente. E esse pessoal está jogando uma partida de xadrez que tem implicações para todos nós”, comentou David Cahn, sócio da empresa de capital de risco Sequoia, do Vale do Silício.

PROMESSA: AVANÇOS CIENTÍFICOS


Dario Amodei, diretor-executivo da Anthropic, uma das principais rivais da OpenAI, acredita que em apenas alguns anos —talvez já no ano que vem— a inteligência artificial será algo como ter um “país inteiro de gênios dentro de um centro de dados” que podem trabalhar juntos para resolver os maiores problemas científicos que nossa sociedade enfrenta.

Por que isso está sendo construído?

Tecnólogos como Amodei presumem que esse tipo de tecnologia vai mudar a vida como a conhecemos. No ano passado, ele mencionou em um ensaio de 14 mil palavras que a IA poderá finalmente curar o câncer, acabar com a pobreza e até mesmo trazer a paz mundial. E previu que, em uma década, dobrará a expectativa de vida média das pessoas para 150 anos.

Isso se aproxima da realidade?

Não está claro como essas tecnologias serão construídas —ou até mesmo se são possíveis.

Mas James Manyika, vice-presidente sênior de pesquisa, laboratórios, tecnologia e sociedade do Google, disse que, à medida que a empresa persegue objetivos mais ambiciosos, criará tecnologias que podem ser usadas de imediato. Como exemplo, ele cita o AlphaFold, sistema desenvolvido pelo Google que pode ajudar a acelerar a descoberta de medicamentos de maneiras pequenas, mas importantes, e que recentemente venceu o Prêmio Nobel de Química.

Uma companhia derivada do Google chamada Isomorphic Labs tem como objetivo obter lucro ajudando as corporações farmacêuticas a usar esse tipo de tecnologia.

PROMESSA: IA TÃO INTELIGENTE QUANTO UM SER HUMANO, OU ATÉ MAIS

Executivos como Zuckerberg e Demis Hassabis, chefe do laboratório de pesquisa DeepMind do Google, afirmam que a empresa deles está buscando a inteligência artificial geral, ou IAG, abreviação para uma máquina que pode igualar os poderes do cérebro humano, ou uma tecnologia ainda mais poderosa chamada superinteligência.

Por que isso está sendo construído?

Muitos tecnólogos estão determinados a alcançar o maior objetivo que podem imaginar: a superinteligência. Perseguem esse sonho desde a década de 1950.

Isso se aproxima da realidade?

Termos como IAG e superinteligência são difíceis de determinar. Os cientistas nem mesmo conseguem chegar a um acordo sobre como definir a inteligência humana.

Mas uma máquina que realmente iguale os poderes do cérebro humano ainda está a muitos anos de distância, talvez décadas ou mais.

Ninguém ainda explicou com clareza como as corporações vão ganhar dinheiro com esse tipo de tecnologia. Ao gastar centenas de bilhões em novos centros de dados, as empresas de tecnologia estão dando um salto no escuro, munidas apenas de fé.

Esse salto é alimentado pela mesma mistura que muitas vezes impulsiona os magnatas do Vale do Silício: ganância, ego e medo de ser destituído por uma descoberta inesperada. “Se eu tivesse de dar uma resposta em uma palavra, seria Fomo” [sigla em inglês para a expressão Fear Of Missing Out, cuja tradução livre é “medo de ficar de fora”], declarou Oren Etzioni, diretor-executivo fundador do Instituto Allen de Inteligência Artificial.

O medo de ficar de fora não sai barato. Altman comentou que, como ele e seus rivais perseguem esses objetivos ambiciosos, alguns investidores talvez estejam gastando demais. Os pesquisadores podem desenvolver maneiras de construir IA usando muito menos hardware. As pessoas podem não querer as tecnologias de IA que essas companhias estão desenvolvendo. O aprimoramento rápido das tecnologias de IA nos últimos anos pode desacelerar ou até mesmo chegar a um impasse. Toda a economia pode mudar por motivos não relacionados.

“Alguns de nossos concorrentes vão fracassar e outros vão se sair muito bem. É assim que o capitalismo funciona. Minha suspeita é de que alguém vai perder uma quantia fenomenal de dinheiro”, afirmou Altman.



Fonte: UOL

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