Em vez de culpar o outro, que tal praticar a autocrítica? – 07/11/2025 – Marina Izidro
Falta de respeito, de educação, hipocrisia, xenofobia.
Palavras usadas para descrever o comportamento de Oswaldo de Oliveira e Émerson Leão no Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol.
Ironicamente, ambos foram técnicos no exterior. Falas que prejudicaram o futebol por também ofuscarem ideias discutidas no evento.
Olhando para o passado, estrangeiros ajudaram a melhorar o esporte brasileiro, não só no futebol.
Antes dos Jogos do Rio-2016, técnicos japoneses, cubanos, sérvios, espanhóis reforçaram nossa preparação olímpica no judô, ginástica, polo aquático, boxe, canoagem etc. Pensando no futuro, que tal quem reclama fazer um exercício de autocrítica?
Aqui na Inglaterra, o anúncio do alemão Thomas Tuchel como treinador da seleção inglesa no ano passado levantou o debate. Só que a discussão nunca foi sobre ter ou não um estrangeiro no comando, essa está ultrapassada, e sim por que não há um inglês à altura do cargo. Como um país rico e com cultura de futebol tão forte não produz treinadores para a seleção ou clubes?
Jogadores com carreiras estelares, hoje técnicos, foram questionados. Wayne Rooney, com passagens ruins comandando times da 2ª divisão inglesa e da MLS; Frank Lampard, hoje no Plymouth, também da 2ª divisão; Steven Gerrard, treinador do Al Ettifaq da Arábia Saudita, encaram uma dura realidade: sucesso como atleta não dá direito divino a uma vaga na elite como técnico.
É fato que na Premier League, a mais globalizada do planeta, a competição para o cargo é absurdamente alta e há poucas oportunidades. Na primeira temporada, 1992-93, só um treinador não era britânico. No início desta, três eram ingleses e um escocês. Nenhum técnico nascido na Inglaterra conquistou o título.
Mas, em vez de culpar o outro, a chegada de Tuchel gerou um exercício de autocrítica. O que ingleses precisam fazer para merecerem estar entre os grandes?
O futebol inglês admitiu que a formação de técnicos da Federação de Futebol (FA) não está evoluída como em outros países. Que Tuchel é de uma geração de treinadores alemães modernos que começaram a ser produzidos há mais de 20 anos, como na Espanha ou Portugal. Que ingleses precisam estar mais abertos a aprender idiomas, sair da Inglaterra para trocar experiências.
No documentário “Técnicos Ingleses: o Declínio”, lançado pós-anúncio de Tuchel, eles próprios admitem que não dá para brigar com a realidade. O futebol mudou e o mercado quer os melhores, não importa o passaporte.
No evento desta semana, Oswaldo, aos berros, disse que “quando Ancelotti for embora, depois de ser campeão, que volte um brasileiro para a seleção”. Culpou edições de vídeos na mídia e se recusou a pedir desculpas. Leão chamou a chegada de estrangeiros no Brasil de “invasão”. Tudo na frente do italiano, que manteve a classe que lhe é característica.
Mas há uma nova geração que pode ter espaço em clubes europeus e na seleção no futuro, caso de Filipe Luís. Técnicos que sabem que, para não ficar para trás, é preciso enxergar o mundo como ele é: globalizado.
Isolamento em nome de defesa de identidade nacional é receita de fracasso. Para um brasileiro, treinar a seleção não deveria ser um direito, e sim um privilégio. E ele só vem com dedicação e estudo, não no grito.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Share this content:



Publicar comentário