Cubano, foi responsável pela evolução do boxe brasileiro – 07/11/2025 – Cotidiano
Em 1992, Cuba tinha uma das mais respeitadas escolas de boxe amador do mundo, condição que foi confirmada nas Olimpíadas de Barcelona, naquele ano. Foram sete medalhas de ouro e duas de prata de um total de 12 categorias em disputa. Otílio Olivè Toledo fez parte dessa campanha de sucesso.
Naqueles anos, o fim da então União Soviética provocou uma crise econômica grave na ilha caribenha. E os técnicos esportivos de suas principais modalidades se tornaram um produto de exportação para Cuba. Eles eram contratados por clubes e academias de outros países e se comprometiam a enviar parte de seus salários para a ilha.
Foi assim que Otílio deixou três filhos e se mudou para o Brasil em 1996, contratado por uma academia de classe alta de São Paulo. O convite surgiu porque um dos sócios era apaixonado pela luta e viu a exportação de treinadores como uma oportunidade de fortalecer sua marca.
O Brasil até então só tinha ganhado uma medalha olímpica na modalidade, o bronze de Servílio de Oliveira, em 1968. E a presença do cubano no Brasil serviu de incentivo para a modernização dos treinamentos no país, com inspiração no modelo da ilha. Um passo importante foi a contratação do próprio Otílio para ser coordenador técnico da seleção brasileira, em 2000.
Nos quase 26 anos em que ficou no cargo, ele foi o responsável por planejamentos e estruturação da equipe nacional, criando, inclusive, a seleção permanente.
O resultado não foi imediato, mas deixou um legado nas décadas seguintes. Desde 2012, o Brasil conquistou dois ouros, duas pratas e quatro bronzes na modalidade. Foram 44 anos de jejum desde a vitória de Servílio.
Graduado em cultura física e esportes na sua terra natal, Camaguey, Otílio foi treinador de boxe de Cuba de 1980 a 1997.
A relação de Otílio com o Brasil se intensificou não só por causa dos dois casamentos que teve no país, mas também pela formação de discípulos, que hoje ocupam cargos técnicos importantes dentro do boxe brasileiro. Um deles, Mateus Alves, por exemplo, é hoje o coordenador técnico da seleção.
Alves lembra do mestre não só quando fala de métodos científicos de treinamento, mas também da memória prodigiosa, capaz de contar detalhes de lutas marcantes do boxe mundial de diferentes décadas. As conversas sempre eram regadas por algum bom uísque, tragadas de charuto e ao som de rock, que saía do toca-discos de Otílio.
Mesmo adaptado ao novo país, o treinador nunca esqueceu suas origens. Com quase 30 anos de Brasil, ele não deixou de enviar dinheiro para seus conterrâneos. Toledo morreu no dia 21 de outubro, aos 64 anos, em razão de um câncer.
“O professor Otílio foi muito mais do que um profissional exemplar —foi um amigo, um conselheiro e uma referência para todos nós. Sua paixão pelo boxe e sua dedicação incansável à confederação ajudaram a moldar a história da nossa modalidade. Sua partida deixa uma lacuna imensa, mas também um legado que jamais será esquecido”, disse Marcos Cândido de Brito, presidente da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe).
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