Brasil é território de disputa entre EUA e China – 21/12/2025 – Ronaldo Lemos

Brasil é território de disputa entre EUA e China – 21/12/2025 – Ronaldo Lemos


A Cúpula do Mercosul se encerrou em Foz do Iguaçu deixando um legado de frustração. O acordo entre o bloco e a União Europeia não saiu. E ficou claro que o Brasil está buscando, com uma certa urgência, diversificar parceiros comerciais, mas sem sucesso.

Até lá, nosso país tem sido um dos principais territórios de disputa entre EUA e China. A dominância dos EUA ainda prevalece, por conta do alto estoque de investimento estrangeiro direto no Brasil.

Em tecnologia, a prevalência dos EUA já foi até naturalizada. Por exemplo, o Brasil depende fortemente dos serviços digitais norte-americanos. Hoje 60% da carga digital brasileira está hospedada em datacenters no estado da Virgínia nos EUA. Isso inclui sites, aplicativos, comércio eletrônico, operações bancárias, Pix e até serviços públicos como o SUS.

Há também investimentos em infraestrutura digital no país. A Microsoft anunciou R$ 14,7 bilhões em cloud no Brasil. A Amazon (AWS) também prometeu investir R$ 10,1 bilhões de 2024 até 2034 para expandir datacenters.

Nas mídias digitais, o ecossistema dos EUA é dominante, com Google e Meta. No entanto, a China ganha força. Há 90 milhões de usuários do TikTok no Brasil e 60 milhões do Kwai. São plataformas com alto engajamento.

Brasileiros também usam fortemente a Shein, Temu e Shopee. As três disputam entre si o mercado do país. Na área de delivery há um ingresso recente chinês, com a chegada da Meituan (Keeta), batendo de frente com a 99food (da chinesa Didi), ambas buscando destronar o iFood.

Além disso, o TikTok anunciou a construção de um data center no Ceará, com investimento no valor de R$200 bilhões e promovendo o uso de energia renovável.

A presença da China em infraestrutura no país também é digna de nota. Em telecom, a Huawei tem cerca de 44% do 5G e perto de 40% em outros segmentos. Em energia tem havido um fluxo relevante de investimentos nos últimos anos, incluindo a compra da CPFL pela chinesa GuoJia DianWang (State Grid).

Na mineração a disputa está se acirrando com investimentos bilionários. O exemplo é a compra do negócio de níquel da Anglo American no Brasil pela chinesa MMG.

E agora, por causa das terras raras, os EUA estão tentando retomar terreno. Foi anunciado em Goiás um investimento de meio bilhão de dólares na mineradora Serra Verde, com essa finalidade.

Outro ponto de destaque é que o Brasil tem aumentado significativamente as importações da China. Em 2023 o país tinha superávit de US$ 50 bilhões. Em 2025 o superávit está em US$ 27 bilhões. A China é não só o maior comprador do país, mas tornou-se nosso principal fornecedor, respondendo por cerca de 25% das importações. Os produtos importados são vastos: eletrônicos, vestuário, brinquedos, medicamentos, fertilizantes, máquinas e nos últimos anos, carros elétricos e autopeças. A questão é que o Brasil vende na prática só três produtos para a China: soja, minério de ferro e petróleo.

Em suma, estamos vivendo um risco claro e presente de primarização. Não é surpresa que a Cúpula do Mercosul tenha sido tão frustrante para o país. Que 2026 nos abra horizontes mais amplos.

Já era – expectativa de assinar acordo comercial com a Europa este ano.

Já é – aniversário de 25 anos que o Brasil tenta um acordo comercial com a Europa.

Já vem – busca de aproximação comercial com o Vietnã.


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Fonte: UOL

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