BNDES defende novo investimento em compra de ações – 24/06/2025 – Mercado
A decisão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de voltar a investir na compra de ações de empresas não tem semelhanças com a antiga política das campeãs nacionais, afirmou à Folha o diretor financeiro e de mercado de capitais do banco, Alexandre Abreu.
“São estratégias completamente diferentes”, disse nesta terça-feira (24).
De acordo com ele, o novo plano não mira setores específicos nem tem uma pré-definição das empresas que receberão os aportes.
Assim, será possível atender a negócios de diferentes ramos e tamanhos, desde que tenham projetos aprovados nas áreas de economia verde e inovação, indica o diretor.
“Não é impossível que se invista em mais de uma empresa do mesmo setor, o que é totalmente diferente desse programa [política de campeãs nacionais]”, afirmou Abreu.
O banco anunciou na segunda (23) que a subsidiária BNDESPar retomará, após cerca de dez anos, aportes em renda variável –categoria que inclui a compra de ações, sem retorno previamente definido.
A promessa é investir até R$ 10 bilhões em projetos de transição ecológica, descarbonização e inovação.
O anúncio, contudo, levantou um debate sobre eventuais semelhanças com o apoio dado pelo BNDES a grandes empresas em gestões anteriores do PT.
A política das chamadas campeãs nacionais incluiu a compra de participações acionárias, contestada por uma ala de economistas. Na visão dos críticos, os negócios teriam condições de crescer sem o empurrão do banco.
No novo plano, o BNDES prevê até R$ 5 bilhões em investimentos diretos –disponíveis para empresas que solicitarem recursos até dezembro– e R$ 5 bilhões via fundo de investimentos.
“Estou avisando antes que estou investindo, quanto estou investindo, quais projetos estão elegíveis. Todas as empresas que tiverem projetos desses segmentos [economia verde e inovação] podem se candidatar, e vamos escolher dentro de um orçamento pré-definido. Não estou travando porte, nem setor”, aponta Abreu.
De acordo com ele, os investimentos em ações exigem uma avaliação até “mais rigorosa” do que uma análise de crédito, que conta com garantias como prazos de vencimentos. “Os riscos são maiores.”
A promessa do banco é analisar se os projetos interessados em receber os investimentos dialogam com as áreas de economia verde e inovação, se as empresas têm condições de levar as propostas adiante e qual pode ser o retorno para o banco.
“Na maioria desses projetos, o BNDES não vai botar 100%. Vai ter um pedaço que vai ser de outros sócios ou da própria empresa”, diz Abreu.
Ele ainda afirma que a iniciativa pode estimular o mercado de capitais em um momento de seca de IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) no Brasil.
De acordo com o banco, os recursos a serem investidos vêm da venda de participações em empresas já “maduras” e do recebimento de dividendos.
Em 20 de maio, o BNDES anunciou a redução da participação da BNDESPar na processadora de carnes JBS, de 20,81% para 18,18%.
Uma semana antes, Abreu havia dito que a venda de ações de companhias “maduras”, como seria o caso da JBS, poderia ser levada adiante, dependendo da perspectiva dos preços.
Por outro lado, ele indicou à época que existem papéis que o BNDES não tem interesse em negociar devido a posições consideradas “estratégicas”. São os casos das participações na Petrobras e na Eletrobras.
O governo Lula (PT) defende uma atuação fortalecida do banco com medidas de apoio a diferentes setores da economia, incluindo a indústria.
A posição, contudo, é vista com ressalvas por economistas que temem um inchaço do BNDES e uma eventual reciclagem de ideias de outros mandatos do PT.
A direção do banco já rebateu as críticas em diferentes ocasiões, dizendo que aposta em áreas estratégicas, incluindo inovação e transição energética.
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