A coragem de Fux – 10/09/2025 – Juca Kfouri

A coragem de Fux – 10/09/2025 – Juca Kfouri


Para um leigo, discordar de jurista que chegou ao Supremo Tribunal Federal é tarefa mais que complicada: seria ousadia capaz de expor quem o fizesse ao ridículo.

Cumpre, portanto, apenas reconhecer a coragem de Luiz Fux.

Pesquisas do Datafolha já mostraram que mais da metade da população brasileira concordou com a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e que 48%, antes da decisão, eram a favor da condenação do ex-presidente.

Fux não se importou em remar contra a maré nem em contrariar a maioria de seus pares na Primeira Turma do STF.

A única divergência, data venia, a que pode se permitir o leigo metido a entender, ao menos, de futebol, é sobre o chamado “espírito da lei”, contestado pelo eminente jurista como algo subjetivo, ao sabor do entendimento de cada um.

Peguemos a Lei do Impedimento, a regra 11, entre as 17 do futebol.

O surgimento do VAR fez com que, claramente, seu espírito, o de impedir vantagem do atacante, fosse deturpado na medida em que a ferramenta detecta até um bico de chuteira à frente, o que, obviamente, não significa vantagem alguma.

Como o VAR é garantista, neste país de 220 milhões de técnicos de futebol —hoje também capazes de escalar os 11 que compõem o time do STF, algo impossível em relação à seleção brasileira—, a lei vigora e gols são anulados sem que se faça justiça.

Todos os que argumentarem sobre a necessidade de mudar a lei estarão certos, sem o que, dane-se o espírito dela.

De resto, é o de sempre: “De cabeça de juiz e de bunda de neném a gente nunca sabe o que vem”.

Fux virou a caixinha de surpresas do STF para honrar a frase de Benjamim Wright, por coincidência pai do ex-juiz de futebol José Roberto Wright.

E já que estamos no campo jurídico, justifica-se a massacrante lembrança da troca de mensagens entre dois outros notórios magistrados da República de Curitiba, o ex-procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sergio Moro:

13:04:13 Deltan – Caros, conversei com o Fux mais uma vez, hoje.

13:04:13 Deltan – Reservado, é claro: O Min Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou, e que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me pra ir

à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições.

13:04:13 Deltan – Em especial no novo governo.

13:06:55 Moro – Excelente. In Fux we trust.

13:13:48 Deltan – Kkk

Yes! They trust Fux!!!

Linhas tortas

O assoprador de apito chileno resolveu um problema para a Fifa ao atender o VAR e dar pênalti à sul-americana contra o Brasil e, assim, eliminar os indesejados, por Donald Trump, venezuelanos da Copa do Mundo norte-americana. Sobra o Irã.

Enquanto isso, Israel segue na disputa das Eliminatórias, apesar do genocídio na Palestina, de bombardear o Qatar etc.

O presidente da Uefa é contra qualquer punição aos israelenses, como contra os russos, por entender que os atletas não têm poder para evitar guerras. OK, faz sentido.

Punir uns e aliviar outros é que não é justo.

O que diria Luiz Fux?


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Fonte: Uol

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