FedEx: Frederick W. Smith, fundador da empresa, morre – 24/06/2025 – Mercado
Frederick W. Smith, que revolucionou a entrega expressa como fundador e CEO de longa data da FedEx, uma empresa que se tornou tão onipresente que seu nome tornou-se um sinônimo do seu serviço, morreu em 21 de junho em Memphis. Ele tinha 80 anos.
A FedEx anunciou sua morte, mas não divulgou a causa.
Smith era estudante universitário de economia em Yale e trabalhava como piloto particular nas horas vagas, quando escreveu um trabalho acadêmico em 1965 delineando sua ideia para um negócio de transporte que conectaria terra e céu, usando aviões para garantir que medicamentos, peças de computador e outros pacotes sensíveis ao tempo pudessem ser entregues de porta em porta.
Como ele contou mais tarde quando questionado sobre qual nota recebeu, seu trabalho não era especialmente bem elaborado. “Acho que recebi meu habitual C de cavalheiro”, disse ele.
No entanto, embora com poucos detalhes específicos, seu trabalho ofereceu um modelo para a FedEx, fornecendo a Frederick W. Smith o início de uma ideia que ele refinou após se formar na faculdade, ingressar no Corpo de Fuzileiros Navais e servir duas missões no Vietnã, onde se convenceu de que era necessário um sistema de distribuição mais eficiente para transportar suprimentos de um lugar para outro.
Sua solução foi um modelo chamado de hub-and-spoke (centro e raios), no qual um local servia como centro de distribuição para entregas. Esse conceito tornou-se o princípio que organizou a FedEx, originalmente chamada Federal Express, que Smith lançou em Memphis em 1973, usando uma frota de 14 jatos de carga Dassault Falcon para entregar 186 pacotes em 25 cidades dos EUA em sua primeira noite de operações.
Hoje, a FedEx emprega mais de 500 mil pessoas em todo o mundo e movimenta mais de 17 milhões de remessas por dia. Seus pacotes incluem presentes de aniversário, suprimentos comerciais e documentos jurídicos, bem como dispositivos médicos e produtos farmacêuticos que salvam vidas.
Em um único ano durante a pandemia de Covid-19, a empresa transportou cerca de 300 milhões de vacinas contra o coronavírus nos Estados Unidos, aproximadamente metade do total de vacinas distribuídas pelo governo federal até aquele momento.
“Vocês estão entregando o comércio mais importante da história do mundo”, dizia Smith, instruindo os funcionários a cuidarem de cada pacote. “Vocês não estão entregando areia e cascalho.” (Essa abordagem inspirou o filme “Náufrago” de 2000, no qual ele fez uma participação especial como ele mesmo. O filme tinha Tom Hanks como protagonista vivendo um analista da FedEx que sobrevive a um acidente de avião, fica isolado em uma ilha deserta e se agarra a uma caixa da FedEx não aberta, esperando um dia completar a entrega.)
Smith parecia destinado a uma carreira em transporte. Seu avô paterno era capitão de barco a vapor, e seu pai fundou uma linha de ônibus regional em Memphis.
Ele usou parte de sua herança familiar para iniciar a FedEx, embora logo começasse a ficar sem dinheiro: Roger Frock, um dos primeiros executivos da FedEx, escreveu em 2006 que pouco depois de a empresa começar a fazer suas primeiras entregas, suas contas bancárias estavam quase zeradas. Smith levou os últimos US$ 5.000 da empresa para uma mesa de blackjack em Las Vegas, onde ganhou US$ 27 mil e usou seus ganhos para ajudar a manter o negócio funcionando.
Em parte, ele disse, as dificuldades da empresa eram resultado da regulamentação governamental: a FedEx não conseguiu atualizar sua frota para um avião maior, o Boeing 727, até 1977, após anos de lobby no Congresso para desregulamentar a indústria de carga aérea. Em 1983, a empresa já relatava mais de US$ 1 bilhão em receita anual e se preparava para expandir para a Europa e Ásia.
Entre as grandes corporações, a FedEx tinha um grau incomum de estabilidade no topo. Smith foi CEO por mais de 50 anos antes de se afastar das operações diárias em 2022, quando assumiu o título de presidente executivo. O crescimento de sua empresa o tornou fenomenalmente rico —no início deste ano, a Forbes estimou seu patrimônio líquido em US$ 5,8 bilhões— e também influente.
Um de seus colegas em Yale, o ex-presidente dos EUA George W. Bush, disse em uma homenagem que ele “duas vezes pediu” a Frederick W. Smith “para servir como secretário de Defesa, e ele recusou duas vezes apenas por causa de sua devoção à sua família”. Outro amigo próximo, o ex-secretário de Estado John Kerry, era membro ao lado de Smith da Skull and Bones, uma das sociedades secretas exclusivas de Yale.
O criador da FedEx também era curador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, uma think tank de Washington, e membro do Business Council, uma associação exclusiva de CEOs. Trabalhando ao lado do senador Bob Dole, ele copresidiu uma campanha de arrecadação de fundos que levantou mais de US$ 195 milhões para o Memorial Nacional da Segunda Guerra Mundial, que foi inaugurado em Washington em 2004.
Um ano antes, em 2023, Smith usou parte de seus ganhos na FedEx para se tornar coproprietário do time de futebol americano da capital do país, agora chamado de Washington Commanders.
Ele e outros dois acionistas minoritários venderam suas ações de volta ao proprietário Daniel Snyder em 2021, depois que o The Washington Post relatou que o trio havia ficado insatisfeito com Snyder em meio a um debate sobre o nome do time, que se chamava Washington Redskins. A FedEx foi o primeiro grande patrocinador corporativo a pedir que o time mudasse seu nome.
Sob o comando de Smith, a FedEx tornou-se uma das primeiras empresas de transporte a oferecer rastreamento de pacotes online. Posteriormente, expandiu seu alcance adquirindo empresas como a Caliber System, que foi pioneira no uso de códigos de barras para rastrear entregas, e a Kinko’s, uma rede varejista de lojas de material de escritório e impressão.
O empresário teve menos sucesso com o Zapmail, um serviço de correio eletrônico de curta duração que ele desenvolveu na FedEx em uma época em que as máquinas de fax ainda eram uma novidade. Quando o empreendimento foi descontinuado em 1986, havia custado à empresa mais de US$ 300 milhões.
Não tenho medo de tentar e errar
“Não podíamos simplesmente ficar parados”, acrescentou. “Empresas que não reconhecem que seus negócios serão comoditizados e não assumem alguns riscos —alguns dos quais vão funcionar e outros não— acabarão sendo derrotadas pelo mercado”, avaliou.
Frederick Wallace Smith nasceu em Marks, Mississippi, em 11 de agosto de 1944. Ele cresceu em Memphis, a quase 100 quilômetros da cidade-natal, onde seu pai iniciou a Smith Motor Coach Co., posteriormente conhecida como Dixie Greyhound Lines. Seu pai dirigiu o primeiro ônibus pessoalmente, presidiu o conselho da empresa e usou os rendimentos de sua venda para a Greyhound para investir na Toddle House, uma rede de restaurantes que se expandiu por todo o país.
Smith tinha 4 anos quando seu pai morreu vítima de um problema cardíaco. Anos depois, sua mãe se casou com um piloto itinerante que ajudou a lançar as operações de voo da FedEx e serviu na Guarda Nacional Aérea do Tennessee.
Quando criança, Smith andava com muletas enquanto era tratado de um distúrbio do quadril, a doença de Legg-Calvé-Perthes. Na adolescência, ele já conseguia jogar futebol americano e também tinha aulas de pilotagem.
O empresário se formou em Yale em 1966 e serviu quatro anos no Corpo de Fuzileiros Navais, incluindo a bordo de um avião de observação OV-10 Bronco no Vietnã. Enquanto comandava uma companhia de fuzileiros navais nos arredores de Danang, ele liderou um ataque bem-sucedido contra um batalhão norte-vietnamita, às vezes correndo através do tiroteio para carregar feridos do campo de batalha. Mais tarde, ele foi condecorado com a Estrela de Prata por bravura.
De acordo com Smith, o Corpo de Fuzileiros Navais serviu como uma escola de negócios informal, apresentando-o não apenas a questões mais amplas de logística, mas também aos fundamentos de liderança. Depois de ser dispensado honrosamente com a patente de capitão, ele retornou para casa e fundou a FedEx em 1971, estabelecendo a empresa em Little Rock antes de iniciar as operações de entrega em Memphis, que tinha amplo espaço de hangar e oferecia uma localização central para entregas nos EUA.
Os primeiros anos da empresa coincidiram com um período tumultuado na vida pessoal de Smith, que o jornalista Vance Trimble mais tarde relatou em “Overnight Success”, um livro de 1993 sobre a empresa.
Smith foi processado em 1974 por suas duas meias-irmãs, que alegaram que ele havia sido irresponsável ao investir parte da herança delas —dinheiro de um fundo familiar— em seu negócio incipiente. Meses depois, em 1975, ele foi indiciado por um grande júri federal, acusado de falsificar documentos de empréstimo em nome do fundo.
Em fevereiro daquele ano, ele foi preso em conexão com um atropelamento em Memphis que tirou a vida de George Sturghill, um funcionário de estacionamento com pouco mais de 50 anos. O Memphis Commercial Appeal relatou que Smith foi acusado de deixar o local e dirigir com uma licença vencida.
Essas acusações foram posteriormente retiradas, e o criador da FedEx foi absolvido no caso de falsificação. Ele chegou a um acordo extrajudicial com suas irmãs em 1978.
Seu primeiro casamento, com Linda Black Grisham, terminou em divórcio em 1977. De acordo com a FedEx, ele deixa a esposa, Diane Smith, nove filhos, 31 netos e dois bisnetos.
Uma de suas filhas, Windland Smith Rice, fotógrafa de natureza, morreu de um distúrbio cardíaco em 2005, aos 35 anos.
Fora da FedEx, Smith integrou o conselho de empresas como Holiday Inn e General Mills. Ele também financiou filmes como “Devotion” (2022), sobre a amizade entre um aviador naval negro e um branco durante a Guerra da Coreia, e fez doações para a Universidade de Memphis, o Zoológico de Memphis e outras instituições em sua cidade adotiva. O deputado Steve Cohen, um democrata cujo distrito inclui grande parte de Memphis, chamou-o de “o cidadão mais importante” da cidade.
Olhando para a história da FedEx em uma entrevista de 1998 para a American Academy of Achievement, Smith atribuiu grande parte de seu sucesso a “estar no lugar certo na hora certa”. Ele acrescentou que servir no Vietnã, onde havia visto amigos mutilados ou mortos, também lhe deu uma perspectiva diferente.
“Eu estava disposto a arriscar”, disse ele, “porque perder não era a pior coisa do mundo que poderia acontecer com você. Eu tinha visto isso muito claramente.”
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