Afinal, o que é uma taxa livre de risco? – 19/06/2025 – De Grão em Grão
Você já ouviu alguém dizer que determinada aplicação “rende mais que a taxa livre de risco”? Pode parecer apenas um jargão do mercado, mas por trás dessa expressão está um conceito fundamental. É a partir dela que se decide se vale a pena aplicar em ações, comprar um imóvel ou mesmo fazer um consórcio. Mas o que, de fato, define uma taxa como “livre de risco”?
Embora a expressão sugira segurança total, a realidade é mais exigente. Segundo o professor Aswath Damodaran e autores como Bodie, Kane e Marcus, uma taxa só pode ser considerada verdadeiramente livre de risco se cumprir três critérios ao mesmo tempo.
Antes de expicar os critérios, respondo a questão: por que é importante sabermos definir o que é uma taxa livre de risco?
Porque, ao avaliarmos qualquer ativo de risco — como ações, imóveis ou qualquer empreendimento — é a partir dessa taxa que construímos nossa régua de comparação. Devemos somar a ela um prêmio proporcional ao risco do ativo que estamos analisando. E a decisão de investir ou não deve ser guiada por uma pergunta simples, mas poderosa: o prêmio que esse ativo me oferece compensa o risco que estou disposto a correr?
Então vamos entender os três critérios.
O primeiro é o mais conhecido: não pode haver risco de inadimplência. O emissor do ativo tem de garantir que irá pagar. O segundo critério é a previsibilidade do retorno. Para isso, o investimento precisa ter prazo definido e retorno garantido no vencimento. É por isso que títulos com pagamento único, como as LTNs (Tesouro Prefixado) ou as NTN-B Principais (Tesouro IPCA+ sem cupons) são os melhores candidatos: eles evitam o risco de reinvestir cupons em taxas futuras incertas.
O terceiro critério é mais sutil — e frequentemente ignorado: a taxa livre de risco precisa estar definida em uma única moeda. Isso significa que não existe uma taxa livre de risco universal. Existe uma para reais, outra para dólares, outra para euros. Cada uma vale apenas dentro do seu próprio território monetário.
No Brasil, esses critérios são atendidos no caso dos títulos públicos federais em reais. Afinal, o governo nunca deixou de pagar sua dívida interna — e, como emite a própria moeda, sempre pode honrar os compromissos. Antes que me torturem pelo que falei, reforço, não confunda os eventos: sim, o Brasil deu calote em sua dívida externa, pois não consegue emitir dólar.
Assim, um título do Tesouro americano pode até ser livre de risco em dólares, mas não é para um investidor que vive e pensa em reais. Afinal, você não sabe quanto terá em reais ao final do investimento, porque o câmbio pode subir ou cair. Do mesmo modo, um título IPCA+ é livre de risco apenas se considerarmos a inflação como “moeda de conta”. Mas ele passa a ter risco se quisermos saber exatamente quanto teremos em reais — pois a inflação futura é incerta.
Até o CDI, que é tão usado como referência no Brasil e que inspira tranquilidade por sua estabilidade, só pode ser considerado livre de risco para um único dia. Afinal, o CDI é uma taxa diária. Se o seu horizonte é de 1, 2 ou 5 anos, ele não atende ao critério da previsibilidade: você só saberá o rendimento final ao fim do caminho. Não é possível saber hoje, com precisão, quanto você terá em mãos no vencimento.
Importante entender que, na definição técnica, estar livre de risco não significa que o valor do investimento não oscile ao longo do tempo, mas que, no prazo combinado, o retorno é conhecido e garantido.
O verdadeiro investimento livre de risco é aquele que, para um horizonte desejado e na moeda que nos importa, entrega um valor final conhecido desde o início. Quer um exemplo? Se hoje um Tesouro Prefixado com vencimento em 7 anos oferece uma taxa de 13,8% ao ano, e você investir R$100 mil, já sabe com exatidão que irá resgatar R$ 247 mil ao final do prazo. Não há incerteza no caminho — nem de calote, nem de reinvestimento, nem de variação cambial.
Entender a taxa livre de risco é como saber onde está o chão antes de dar o primeiro passo. Porque, no mundo das finanças, caminhar sem referência pode até parecer seguro — até que o solo ceda.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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