Alibaba: Jack Ma retorna e promete reerguer empresa – 16/09/2025 – Mercado

Alibaba: Jack Ma retorna e promete reerguer empresa – 16/09/2025 – Mercado


Durante a repressão de anos da China ao setor de tecnologia, os fóruns internos de mensagens do Alibaba Group Holding se encheram de sonhos de “MAGA” —Make Alibaba Great Again (Torne o Alibaba Grande Novamente). Agora, a empresa está recorrendo a uma de suas armas mais poderosas para cumprir essa missão: Jack Ma.

Depois de desaparecer dos holofotes no início de uma investigação antitruste em 2020, o empresário mais reconhecível da China está de volta aos campi do Alibaba —e mais envolvido diretamente do que esteve em meio decênio, segundo pessoas próximas à companhia.

Os sinais de sua influência nos bastidores estão ficando mais nítidos, sobretudo na guinada para a inteligência artificial e na declaração de guerra contra os rivais JD.com e Meituan.

Ma foi peça-chave na decisão do Alibaba de gastar até 50 bilhões de yuans (US$ 7 bilhões ou R$ 37 bilhões) em subsídios para conter a entrada surpresa da JD no mercado, disse uma das fontes, pedindo anonimato por se tratar de assunto privado.

O Alibaba, que desde 2023 é comandado por dois dos mais antigos tenentes de Ma, Joe Tsai e Eddie Wu, não informou se o fundador retornou em algum cargo oficial. Um porta-voz não respondeu a um email com perguntas detalhadas. Mas pessoas próximas às operações dizem que o empresário de 61 anos está mais ativo do que desde que renunciou ao cargo de presidente em 2019.

Além de ajudar a orquestrar bilhões em investimentos, ele também pede atualizações constantes sobre as iniciativas em IA. Em uma ocasião, chegou a mandar três mensagens no mesmo dia a um alto executivo, pedindo informes, segundo uma das fontes.

Antes o homem mais rico e mais proeminente da tecnologia chinesa, o retorno de Ma vinha sendo aguardado como um sinal de que o setor antes livre e expansivo voltava a cair em favor em Pequim. Embora não esteja claro se seu retorno teve o aval explícito de Pequim, um aperto de mãos com o presidente Xi Jinping em fevereiro foi interpretado como reabilitação, justamente em um momento em que o país aposta na IA para impulsionar o crescimento.

Ainda assim, espera-se que ele mantenha um perfil mais discreto que no passado, quando aparecia em painéis de Davos ou julgava concursos de talentos na África.

“Jack Ma é a maior figura de relações públicas do Alibaba, sua maior personalidade, seu maior ídolo”, disse Li Chengdong, chefe do think tank de internet Haitun, em Pequim. “O retorno do grande chefe significa que ele não é mais um risco —e isso deixa todo mundo empolgado.”

Ma precisa lidar agora com as novas realidades do comércio eletrônico chinês, marcado por competição acirrada e pela disputa por consumidores que querem refeições, compras de supermercado e eletrônicos entregues em menos de uma hora. Altos executivos tentam fazê-lo entender que os tempos em que o Alibaba detinha 85% do mercado já ficaram para trás, disse uma fonte.

Ele aposta que a plataforma central Taobao pode vencer JD e Meituan, após recentes avanços na recuperação de participação de mercado. Em julho, o Alibaba detinha 43% do mercado de delivery de comida da China, ante 47% da Meituan, segundo o Goldman Sachs.

Mas essa batalha pode colocá-lo em rota de colisão com autoridades que querem encerrar o que chamam de “subsídios maliciosos”, o que pode despertar novas críticas sobre o papel do Alibaba na guerra de preços.

Foi um discurso agora infame em 2020 que levou Ma a se retirar da cena pública. Dias depois de criticar publicamente os bancos chineses como “casas de penhores”, reguladores barraram a abertura de capital do Ant Group, afiliado do Alibaba. Semanas depois, Pequim lançou uma campanha de longo prazo para reforçar o controle estatal sobre a economia e conter a classe bilionária do país.

Ma foi lançado ao centro da tempestade regulatória que se espalhou para rivais como DiDi Global e as então gigantes da educação online, empurrou outros bilionários para o anonimato e resultou na maior destruição de riqueza da história moderna chinesa. O Alibaba perdeu quase US$ 700 bilhões em valor de mercado —equivalente a todo o valor atual da Tencent Holdings.

Talvez o símbolo mais marcante dos anos de repressão, Ma saiu dos holofotes e passou a viver entre Tóquio e Hong Kong. O moral dos funcionários despencou nesse período, que coincidiu com as duras restrições da pandemia. Sua ausência, por si só, virou sinônimo dos tempos difíceis da empresa. Assim, quando ele voltou ao Ant Group em dezembro e fez seu primeiro discurso público desde 2020, alguns veteranos se emocionaram tanto que choraram, contou um participante, sob anonimato.

Numa visita em abril à sede da divisão de nuvem do Alibaba, Ma passou por paredes cobertas de mensagens emocionadas de funcionários de longa data, relatando as dificuldades enfrentadas na sua ausência. Cercado por empregados sentados em escadas e acompanhado por ouvintes em Tóquio e Hong Kong, Ma mostrou sua tradicional eloquência, relataram participantes.

Ma detalhou o papel crucial da plataforma de nuvem da empresa, de seus chips T-head desenvolvidos internamente e da família de modelos de IA Qwen, sobre os quais disse receber atualizações diárias. Após o evento, alguns presentes afirmaram ter saído motivados e inspirados, como se tivessem presenciado a cultura de uma startup em seu primeiro dia.

O Alibaba percorreu um longo caminho desde sua fundação em 1999, quando Ma reuniu US$ 80 mil de 80 investidores para criar um marketplace online. Em 2014, realizou um IPO recorde de US$ 25 bilhões. Nos anos seguintes, sua valorização ultrapassou US$ 800 bilhões. Mas, após o choque com os reguladores e o impacto da pandemia, suas ações despencaram.

Agora, para restaurar a antiga glória, Ma aposta em rostos familiares como Wu e Tsai, além da estrela em ascensão Jiang Fan.

Wu lidera a principal prioridade da companhia: a busca pela inteligência artificial geral. Em fevereiro, o Alibaba prometeu gastar mais de 380 bilhões de yuans (US$ 50 bilhões) em IA e infraestrutura de nuvem nos próximos três anos. Embora a monetização ampla da IA ainda esteja distante, em agosto a empresa conseguiu aumentar em 26% a receita de nuvem —seu ritmo trimestral mais rápido em anos. Isso ajudou as ações a acumularem alta de 88% no ano até a última segunda-feira, embora seu valor de mercado de US$ 380 bilhões seja menos da metade do pico.

Além da IA, Ma também influencia o núcleo do ecommerce, ainda o maior motor de receita. Em 2023, a queda de participação de mercado levou Ma a apoiar a saída do então CEO Daniel Zhang, segundo uma fonte próxima. No mesmo ano, surpreendeu funcionários ao postar mensagens em um fórum interno pedindo que a empresa “corrigisse seu rumo”, quando a concorrente PDD Holdings quase ultrapassou o Alibaba em valor de mercado —o que depois aconteceu.

A companhia ainda se recupera de erros sob Zhang, que, com o aval de Ma, investiu bilhões em redes de hipermercados numa aposta equivocada de que o consumo chinês se expandiria. Durante sua gestão, o Alibaba se dividiu em seis unidades independentes, incluindo nuvem e logística, cada uma livre para buscar IPOs. Mas os planos foram suspensos diante do mercado instável.

“Jack tem uma espécie de autoridade moral na empresa para tomar grandes decisões e também criticar executivos ou estratégias quando acha que estão errados”, disse Duncan Clark, autor de Alibaba: The House That Jack Ma Built (Alibaba: A casa que Jack Ma construiu). “Ele não é um gestor do dia a dia, mas sua palavra ou descontentamento podem provocar mudanças.”

Jiang agora conduz o império de ecommerce mais integrado do Alibaba, coordenando delivery de comida, reservas de hotéis e operações de logística. Apesar de ter sido afastado da liderança após um escândalo em 2020, voltou ao cargo este ano.

Embora o retorno de Ma tenha elevado a confiança interna, também trouxe desafios. Sua presença no campus complicou a estrutura de comando, já que alguns funcionários o veem como o verdadeiro tomador de decisões, disseram fontes. Mas ele não tem título oficial e evita decisões mais detalhadas.

Para alguns, sua volta parece a última tentativa de um fundador de primeira geração de recuperar o legado. Como outros veteranos do Alibaba, Ma adotou um apelido inspirado em lendas de kung fu e muitas vezes comparava a trajetória empreendedora a uma jornada de herói.

“Ele provavelmente está convencido de que chegou a hora de sair do retiro e deixar sua marca derrotando a Meituan”, disse Chen Weixing, fundador do app de caronas Kuaidi Dache. “Ele vive na ilusão de sua própria épica de artes marciais.”

É improvável que Ma retorne em uma função oficial. Mas hoje ele usa o crachá da empresa sempre que está no campus —gesto que os funcionários interpretam como sinal de que ele está de volta à ativa.

Quando entregou o comando a Zhang, Ma disse à mídia estatal chinesa: “Aposentadoria não significa que deixei o Alibaba. Se o Alibaba me chamar, sempre estarei lá.”



Fonte: UOL

Share this content:

Publicar comentário